Vinho sem uva?
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“Vende-se vinho sem uvas. Sem levedura. Sem fermentação”. Parece brincadeira, mas é sério.
Dois amigos, chamados Mardonn Chua and Alec Lee, formados em biotecnologia pela University of British Columbia, no Canadá, fundaram uma vinícola, em São Francisco, nos Estados Unidos.
O objetivo deles é recriar grandes vinhos, sem, contudo, utilizar uvas ou processos de fermentação. Eles querem recriar a experiência, sem que seja necessário repetir o processo. Estranho? Sem dúvida.
Eles fazem uma analogia com a arte. A Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, é obviamente única. Mas suas réplicas mundo afora também são relevantes. Elas não existiriam, se também não produzissem algum efeito positivo sobre quem as vê. Elas não existiriam se não tivessem função. Elas servem, de alguma forma, para democratizar o acesso à obra de Leonardo da Vinci.
Assim, eles se propõem a criar réplicas de grandes vinhos, de qualidade e renome. Como? A partir da análise do perfil molecular dos grandes ícones do mundo do vinho, inacessíveis ao bolso da grande maioria dos enófilos.
Mas será que é possível, criar um vinho sem uva? Eles juram que sim. Em sua primeira experiência, eles recriaram um vinho branco, juntando ingredientes:
Ácidos tartárico e málico, para o frescor e a acidez
Taninos para a sensação de adstringência
Glicerina vegetal para o corpo do vinho e um pouco de doçura
Álcool, para estruturar e equilibrar acidez e açúcar
Para que essa mistura de componentes tivesse gosto de vinho branco, eles acrescentaram:
Etil-hexanoato, que lembra o cheiro de abacaxi
Butanoato, com forte cheiro de suco de uva
Limoneno, com cheiros cítricos como de limão
Acetoína, que cheira como manteiga derretida
Os ingredientes foram sendo ajustados em suas proporções, até que o resultado, após mais de 15 formulações diferentes, foi uma bebida que, segundo seus criadores, já era aceitável, apesar de ainda não ser um bom vinho. Mas eles concluíram que era possível fazer vinho acrescentando compostos químicos, um a um, a partir de ingredientes facilmente disponíveis e utilizáveis, todos seguros para o consumo.
Meses se passaram, e eles conseguiram criar uma bebida que, segundo os mesmos, imita o sabor de um italiano Moscato D’Asti.
E eles estipularam um novo objetivo, para lá de desafiador: recriar um espumante, usando como referência um dos Champagnes mais conhecidos, por todos os amantes do vinho, o Dom Pérignon.
Polêmico? Muito. Até porque, ao retirar a uva do processo, essa bebida deixou de ter, também, a história da humanidade por trás de si, a cultura e a tradição do povo que a produz, o terroir de onde ela vem, e todo o charme que só o vinho, de verdade, carrega consigo.
A seu favor, os sócios empreendedores dizem que a bebida que eles irão oferecer será substancialmente mais barata, pois não haverá a necessidade de se cultivar uvas, e depois vinificá-las, em processos às vezes bastante longos.
A grande dúvida é: essa bebida poderá ser chamada de vinho? Pouco provável, tendo em vista as regras rígidas para o uso desse termo, nos mais diversos países, e é claro, na União Europeia.
Para encerrar, vale a ressalva de que a imitação que eles apresentaram, de um Moscato D’Asti, não teve uma performance tão boa assim, em um teste cego com especialistas. Se quiser ler sobre o verdadeiro Moscato D’Asti, um vinho típico da região do Piemonte, clique aqui.
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